A Luz ainda te atrai, inseto infeliz. Sabes dos risos, sabes dos carinhos, sabes o cheiro de lá de fora. Mas tu hesitas, entre a fidelidade ao fundo da caverna que te criou e a necessidade de salvar as brasas que já se apagam em teu coração. Tu hesitas entre a máscara amaldiçoada que buscamos colocar para fugir do óbvio, do aprazível, e a vontade de barbear-se e fazer-se gravata, carteira e relógio. Dos bons.
Nada mais há para ti aqui, como nunca houve. O que há é uma escuridão sem recompensas, sem maciez,sem palavras sussurradas cheias de vogais oclusivas.O que buscas não pode ser encontrado por fora, mas por dentro e o que se cobra é, nada mais, nada menos, do que queimar as fotos de infância, de dar um passo atrás em abraços do sangue, de apontar o punho aos deuses e rir-lhes na cara, cuspindo seus nomes entre os dentes.
A recompensa? Nenhuma. Nada será dado em troca. Nenhum momento será melhor do que aquele inventado e recriado por satisfação de saber-se falso, saber-se longe, saber-se fraco. Nenhum beijo será sentido: os lábios se abrem e umedecem um rosto de mármore. Nenhum subterfúgio etílico ou químico conseguirá afastar os fantasmas de vidas a serem vividas, de passos a serem dados, de palavras que não serão mais pauladas em nossas próprias costas.
A recompensa? Saber-se pouco e sentir-se menos, todos os dias esvaziando-se e evaporando-se como fumaça de cigarro. E saber-se sem poder se satisfazer, que essa palavra ainda não existe aqui, no fundo. Nem existirá, pois pisamos com todo o peso da existência qualquer broto de esperança.
Por isso, te amaldiçoo. Pois estás sempre na beira da saída, apegando-se num sonho que já não mais se lembra, já que é só o que foi: uma imagem fugidia voltando-se sem olhar para trás.Não olhe para trás e te vás. Aqueles que aqui ficam te veneram por fazer algo que não mais podemos e conseguimos fazer: ir-se.
LJ