NÃO SE SALVA A ALMA PELA ARTE. A ALMA ALIMENTA AS MANDÍBULAS DA ARTE. A ALMA...QUE FALTA ELA NOS FAZ...POR ISSO, AQUELE QUE POR AQUI ENTRAR, DEIXE TODA ESPERANÇA DO LADO DE FORA.

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Na ausência de tudo, Kafka

Uma Mensagem Imperial

O imperador - assim consta - enviou a você , o só, o súdito lastimável, a minúscula sombra refugiada na mais remota distância diante do sol imperial, exatamente a você o imperador enviou do leito de morte uma mensagem. Fez o mensageiro se ajoelhar ao pé da cama e segredou-lhe a mensagem no ouvido; estava tão empenhado nela que o mandou ainda repeti-la no seu próprio ouvido. Com um aceno de cabeça confirmou a exatidão do que tinha sido dito. E perante todos os que assistem à sua morte - todas as paredes que impedem a vista foram derrubadas e nas amplas escadarias que se lançam ao alto os grandes do reino formam um círculo -, perante todos eles o imperador despachou o mensageiro. Este se pôs imediatamente em marcha; é um homem robusto, infatigável; estendendo ora um, ora o outro braço, ele abre caminho na multidão; quando encontra resistência aponta para o peito onde está o símbolo do sol; avança fácil como nenhum outro. Mas a multidão é tão grande, suas moradas não têm fim. Fosse um campo livre que abrisse, como ele voaria! - e certamente você logo ouviria a esplêndida batida dos seus punhos na porta. Ao invés disso, porém - como são vãos os seus esforços; continua sempre forçando a passagem pelos aposentos do palácio mais interno; nunca irá ultrapassá-los; e se o conseguisse nada estaria ganho: teria de percorrer os pátios de ponta a ponta e depois dos pátios o segundo palácio que os circunda; e outra vez escadas e pátios; e novamente um palácio; e assim por diante, durante milênios; e se afinal ele se precipitasse do mais externo dos portões - mas isso não pode acontecer jamais, jamais - só então ele teria diante de si a cidade-sede, o centro do mundo, repleto da própria borra amontoada. Aqui ninguém penetra; muito menos com a mensagem de um morto. - Você no entanto está sentado junto à janela e sonha com ela quando a noite chega.

KAFKA, Franz. Essencial (seleção, tradução e introdução de Modesto Carone), São Paulo: Penguin Classics / Companhia das Letras, 2011, pp. 177-8.

sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Par, teria sido eu e as palavras, mas estou do lado dali. A propulsão ta ai e aqui. Franqueza à tona:

Dear Prudence, won't you come out to play?

E pra você, Imagista, won't you let me see your smile? (Smile e a salada também, no mínimo).

Palavras destravadas e estrangeiras, logo eu, logo Pagu, me perdoem.
Fazia tempo que Pagu e eu não éramos Eu.
Sabem que não peço prenda nem respostas.
A vida continua nua.

quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Sem o estranhamento não pode haver arte, e talvez não haja necessidade de palavras. Essas minúsculas pontes imaginárias que pretendem construir um caminho de mim ao outro, merecem seu descanso. E elas têm saído cada vez mais penteadas, mais engravatadas, mais prontas para serem aceitas. É o que resta de um lado da vida: ocupá-la de acordo com o que se pede.

Há um lado, no entanto, que se faz ainda em busca do novo: hoje, por exemplo, fui fazer compras e me fiz uma salada. Como quem senta na mais alta torre, sôbolos rios, fiz uma salada e me satisfiz com o fato de que ainda sorri.

Não espero muito mais. Não há palavras ainda existentes para clamar a falta de interesse que o mundo me motiva. Me contento com poucos sorrisos de alguns poucos outros e com a salada.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

É um caleidocópico modo de ver. Um onírico modo de falar. E eu, com essa objetividade almejada e fracassada, essa poiesis inconclusa, envergonho-me um pouco de falar do que falo do modo como falo. Também do que vejo (do que pobremente vejo). Por isso, no meu caso, pauladas. Por isso, no seu caso, palavras-em-asas-de-ornitorrincos-que-conquistaram-Roma-no-tempo-sem-tempo-de-termos-memória-do-espaço-imemorial-do-ser.

Prudência, por conseguinte, foi minha ausência. Boba prudência, diga-se agora.


P.S.: Que o imagista cético se pronuncie por si mesmo!

quarta-feira, 14 de setembro de 2011

Verifiquei dez dias.
Tem vivido, a Vida, e se morreu, de acordo com certos acordos, virou santo, mas prefiro não acreditar nisso. Teria sido esquecido.
Não sei onde está o ponto final, talvez tenha morrido, e não me causa tristeza.
Perdemo-s (nos) de vista

domingo, 4 de setembro de 2011

É uma tristeza que este blog tenha morrido.

sábado, 12 de março de 2011

No tempo das palavras, a infância era a lei: previa-se a chuva e saia-se às ruas. Sabia-se o cheiro do chá e sentava-se às mesas para a espera. Escrevia-se o obscuro e entendia-se o imediato. Todo tempo tem sua finitude e o nome Tempo faz-se da noção dela. Chegou a nossa. Adiada pela procura das últimas palavras; queríamos que fossem abraços e afagos de quem vai pra nunca mais. Queríamos as palavras-fotos, para pô-las no bolso do casaco, e lembrarmos de onde saímos. Queríamos o adeus tantas vezes implícito no olá, já desejoso de se esvair.

Descobriu-se o tempo das pauladas. A lei é a da pele, do movimento, do respirar. Adeus dado, fazemo-nos orfãos parricídas. Pois o tempo é sempre agora, sempre sensível, sempre líquido. E já andamos agora, fora desse espaço, com as fotos, os abraços, a memória, desde sempre lembrando-nos, aos risos, de que sempre haverá novas palavras a serem ditas, descobertas e finalmente, preenchidas de novos sentidos. E nos esvaímos então no adeus, com tanto olá implícito.