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terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

A expressão em língua morta

Não há mais alma em algumas palavras. Elas tornaram-se substantivos concretos, impassíveis e impossíveis de serem moldadas para expressar um tédio que já merece uma letra maiúscula em seu início. Meu sangue vaza em torno de um quadro que constrói a própria mitologia dos dados jogados ao acaso. Saberá alguém tal alfabeto? A máscara não será por demasiada parecida com os sorrisos caninos dos que ainda esperam por algo? Terá aparência de um espelho medíocre, desrespeitosamente sincero, absurdamente reflexo?

Não há mais alma para algumas palavras. Elas são adjetivos absolutos sintéticos, e cantam uma melodia de infância, mas qual? Aquela que pretendo nunca mais ter ou aquela que criaria para sair de casa e não compor a letra para tal melodia? Meus suspiros organizam-se em torno do impronunciável, pois vida. O escuro torna-se suportável sem qualquer tipo de luz. Ouvirá alguém tal música? Os ouvidos suportarão o mundo como nunca será, mas construímos para nunca ser? Calarão a melodia com seus risos em torno de mesas de jantar e abraços de afeto?

Não há um verbo que insufle vida na própria vida. Ele tornou-se um desconhecido a caminhar pelas alamedas de um centro comercial, perseguindo o sonho de um homem que sonhou um ser passante. Ao seu encontro, todos dizem "com licença, por favor", acendem seus cigarros imaginários e atiram pelas janelas de seus quartos qualquer mistificação. Ficam os corpos, fica a casca, solene, beatificada em nossos dias como meio e fim da vida em si.

Há de se ausentar um dia a vida, sem poder se expressar, e descobriremos uma frase nova em nosso espelho: Viva, inseto belíssimo.

2 comentários:

  1. "Morremos apenas uma vez, e por tanto tempo"

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  2. E nunca nos curamos de nós,
    nem com o remédio chamado morte,
    nem com o veneno chamado vida...

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