Gosto dessa palavra: palíndromo. Significa literalmente "voltar pisando os próprios passos". Ou, em literatura, que uma palavra ou frase pode ser lida em qualquer direção que terá o mesmo significado. Esse pretensamente seria o jogo: mesmo sendo um jogo de pauladas, deliberadas, em forma de palavras, haveria o retorno. Que nem é tão longo, nem sobre passos diferentes. O problema talvez seja esse. Que não há grandes diferenças internas, mas as externas estão transformando-se em pesos excessivos e nossos ombros já não suportam (e, garanto, não pesam a mão de uma criança; antes: pesam o peso da existência que fora corrói até o miolo já corroído).
Mas sem a resposta, as palavras ficaram sem o eco; as pauladas morreram sem o som da carne e da alma sendo punidas; voltarar-se-á ao espelho, já maldito, já cansado.
Toda aventura só é particular na medida em que nossos olhos se distraem com coisas diferentes, mas no fundo a tristeza e a música compartilhada é a mesma: a sinfonia do ocaso, do pôr-do-sol antecipado, de uma derrota que se busca como destino. Pisamos em dentes-de-leões sublimados pela dança das pequeninas e frágeis folhas que dançam a última dança, mas continuamos. Sorvemos o último gole do néctar do esquecimento, extasiados com o fim da própria imagem, mas continuamos. Dançamos dionisicamente os passos dos condenados pelas obrigações fisiológicas, mas continuamos.
Palinfrasia: uso exagerado da mesma palavra. Continuamos...e se esse é o andar sobre nossos passos, que seja, pela última vez, com passos de quem pisa com raiva, com gana e com a leveza de quem sabe que, olhando para trás, só resta a redundância de ser tão comum e tão desnecessário como dentes-de-leão ao vento. Como gotas. Como a dança que chamamos por falta de um nome melhor de vida.
Volte logo. Meus passos aqui estarão.
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